Vida
Chovia forte, muito forte. A tarde estava gostosa. Aquele calor que refresca a alma, aquela chuva que renova as esperanças, restaura os ânimos. Tranquilos, estávamos a fazer planos; entre sorrisos e palavras, entre leituras e piadas, aguardávamos o fim, a chegada ao nosso destino. De repente, aconteceu. O bate, um choque; o choque, uma queda; duas três... A Queda. Nossa maior experiência; a última, para muitos. Foi muito rápido; não sabíamos como ocorrera, porque ocorrera. Só sabíamos a situação em que nos encontrávamos. E os flashes, clarões, lembranças, previsões, apareceram, desapareceram, misturaram-se, isolaram-se. E os abraços, beijos, carinhos, afagos, se reuniram, e era aconchegado por todos ao mesmo momento; todos os braços, todas as mãos, todos os lábios, sorrisos, olhares; aquele aconchego me aquentava. Mãe. Oh, mãe, cadê sua voz? É ela que estou ouvindo agora? E seus sorrisos? E seus cabelos? E seu cheiro? Mãe!!... Mano, eu nunca disse que te amava. Faltou-me coragem. Meu amor, quantos planos fizemos, quantos sonhos tecemos; iríamos conquistar o mundo, sempre juntos. E agora, com quem você irá sonhar? Quem tecerá planos contigo? Como você ficará sem mim? E o passado, pretérito, tão próximo, distancia-se, torna-se longínquo, inacessível, inerte. Inerte. Tudo é inerte. O passado, o presente. Sem futuro. Minha vida é inerte. Meu coração. Meu eu. Acabam-se os flashes. Cessam-se as luzes. Escuro. Tudo torna-se escuro... Ouço a chuva cair. Mais forte, mais forte, mais forte. Só ouço. Parece diminuir, tornar-se fraca, bem fraca, bem fraca... acabou. Minha audição também torna-se