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O que iremos comer amanhã?
Finalmente saiu o livro do historiador Warren Belasco que é uma “história do futuro da alimentação”, isto é, uma história das utopias alimentares e o que prometem como futuro em cada época. A capa ficou bem melhor do que a da edição norte-americana, e a edição brasileira também superou o cacoete comum de se suprimir índices remissivos nas traduções, como se fosse um luxo ou excesso. Este teve o seu mantido. A seguir trechos da apresentação que escrevi para a obra:
O livro do professor Warren Belasco, da Universidade de Maryland, constitui uma leitura fascinante para quantos, preocupados com a nutrição, a segurança alimentar ou a culinária, buscam dialogar com as estruturas de pensamento vivas e atuantes por trás daquilo que levamos à boca. O seu “ovo de Colombo” foi descobrir, como historiador, a estrutura recorrente dos discursos sobre o futuro da alimentação nos últimos 200 anos, desnudando algo que todos farejamos no ar sem conseguir nominar corretamente. Belasco nos aponta um verdadeiro dilema permeando as escolhas alimentares dos últimos séculos.
De fato, o odioso texto de Thomas Malthus – o seu "Um ensaio sobre o princípio da população na medida em que afeta o melhoramento futuro da sociedade, com notas sobre as especulações de Mr. Godwin, M. Condorcet e outros escritores" (1798) – ou o terrivelmente irônico texto de Jonathan Swift, sua “modesta proposição” para a erradicação da fome na Irlanda, de 1729, continuam a soar como alertas para os catastrofistas do presente que acreditam que, em algum momento da história, faltarão alimentos suficientes para uma população humana crescente. Em contraste, os otimistas incorrigíveis – entre os quais se alinham empresas como a Monsanto e quantos acreditam que a transgenia garantirá um futuro de abundância crescente de alimentos – apostam num futuro radiante e transformam essa fé em fonte dinâmica de acumulação de capital. Prensados entre os dois pólos estão os comuns dos