Uma Questão de Saúde Pública
Jornalismo e Opinião - Prof. Márcia Detoni
Uma questão de saúde pública
É uma barbaria a situação do Brasil com relação ao aborto. Vilão para alguns, oportunidade de negócio para outros, o aborto já tirou muitas vidas, e, por ano, continuam sendo efetuados um milhão de procedimentos abortivos. Uma em cada cinco mulheres brasileiras já se submeteu a um aborto ilegal e, atualmente, ele encontra-se na posição número cinco na lista das causas de mortalidade materna, dado tão alarmante que fez com que o próprio Conselho Federal de Medicina (CFM) reavaliasse sua conduta e se posicionasse a favor da interrupção da vida até o 12º mês de gestação.
Apesar de retóricas politicamente corretas, o aborto acontece e vai continuar acontecendo independentemente de questões sociais ou jurídicas, econômicas ou políticas. Pode tentar ser coibido por meio de uma legislação que intimide, com o auxílio de reclusão social, multas altas, quem sabe até mesmo uma punição que eventualmente envolvesse medidas drásticas como prisão perpétua ou pena de morte para quem aborta. Ainda assim, o aborto continuaria sendo uma inexorabilidade da sociedade brasileira, porque o Estado não dá à mulher o direito de escolher legalmente algo que uma parcela delas almeja. Assim, aquela que tenciona o aborto vai fazê-lo a qualquer custo, seja com o auxílio de um "médico" - muitas vezes descritos como açougueiros - seja, no caso das desprovidas de recursos, numa clínica sem as mínimas condições de higiene e esterilização, seja em casa, perfurando o próprio útero com objetos que beiram o inconcebível.
Muitas das brasileiras que se arriscam são cônscias de que, no contexto social no qual estão inseridas, não há condições fidedignas para que uma vida seja trazida ao mundo e, nesse caso, para quê fazê-lo, se a criança corre o risco de ser colocada à mercê de um tratamento negligente em um orfanato ou, pior, de não ter acesso aos direitos humanos fundamentais, os mais elementares,