Uma questão de gênero: representações da condição feminina nos contos tradicionais e contemporâneos
Nalú da Silva Rocha1
“O conto de fadas é terapêutico porque o paciente encontra suas próprias soluções, por meio da contemplação daquilo que a história parece sugerir acerca de si e de seus conflitos íntimos nesse momento de sua vida.”
Bruno Bettelheim
Na literatura infantil a mulher figura como símbolo da submissão/dependência, partindo do pressuposto que as liturgias da Idade Média procuravam situar cada indivíduo em seu lugar hierárquico, e qualquer um que se atrevesse a mudar esta condição hierárquica cometia um crime contra a Vontade Divina. São decorrência desses desejos, os Contos Maravilhosos, que eram repassados através da tradição oral, contados pelos mais velhos aos mais jovens, e posteriormente, no século XVII, coletados por escritores como Charles Perrault2 que os valorizou e os escreveu em forma de contos prioritariamente para adultos burgueses e não para crianças. No século XIX, outra coleta de contos populares é realizada na Alemanha, pelos irmãos
Grimm (João e Maria, Rapunzel), na Dinamarca por Christian Andersen (O patinho feio,
As roupas do Imperador), na Itália por Collodi (Pinóquio), na Inglaterra por Lewis Carrol
(Alice no país das maravilhas), na Escócia por James Barrie (Peter Pan). Estes contos constituíram padrões de literatura infantil e funcionaram como uma válvula de escape povoando o imaginário de plebeus e plebéias da época, satisfazendo seus desejos reprimidos em mudar sua condição. Vale ressaltar que esses contos antes da coleta, eram destituídos de propósitos moralizantes.
O contexto histórico que ocorria na Europa, especialmente na França era de repressão religiosa, contrastes sociais e escassez (A economia francesa era essencialmente agrícola, mas os camponeses passavam privações); Neste contexto, segundo
CADEMARTORI3 (2010):
“É que cabe situar o folclore, isto é, o conjunto de
manifestações