Uma nova noção de empresário: a naturalização do "empreendedor"
UMA NOVA NOÇÃO DE EMPRESÁRIO:
A NATURALIZAÇÃO DO “EMPREENDEDOR”
Elaine da Silveira Leite
RESUMO
Atualmente notamos uma explosão de livros, revistas e programas de televisão voltados para temas como carreira, negócios e empreendedorismo. Enquanto há, de um lado, uma literatura acadêmica que estuda o empreendedorismo como um tipo de ação econômica e o empreendedor como um ator social a quem corresponde um tipo de prática ligada à liderança e à inovação, há também , de outro, uma literatura não acadêmica que faz do empreendedorismo um conjunto de princípios ideais de bom comportamento e que, a partir desse conjunto, estabelece prescrições normativas para aqueles que desejam tornar-se empreendedores. Diante disso, o presente artigo pretende discutir a construção de uma ideologia que traz, na noção de empreendedor, o empresário como um ator social imbuído de uma conotação ética. As histórias de sucesso de empresários aparecem como um rico material empírico para a compreensão da construção e da difusão de uma ideologia na qual a noção de empresário vai sendo ressignificada. No centro desse processo, encontram-se os “gurus” da administração, os quais, por meio de seus sucessos editoriais, da internet e da grande mídia, difundem uma série de conselhos práticos e assumem a função de empreendedores morais do empreendedorismo. Conclui-se que, por meio desses conselhos e da divulgação dos casos exemplares de sucesso (assim como foi com o protestantismo, no início do capitalismo), formam-se sujeitos com disposição para atuar economicamente e de forma reconhecida como boa e justa. O empreendedorismo pode, portanto, sob esse ponto de vista, ser visto como uma ideologia do capitalismo atual que surge para garantir a adesão e a legitimidade a atividades antes não valorizadas. PALAVRAS-CHAVE: Sociologia Econômica; capitalismo; empresário; empreendedorismo; mercado da autoajuda.
Natália Maximo e Melo
I.