Uma instituição nova
Antes do século XV, o estudante não estava submetido a uma autoridade disciplinar extracorporativa, a uma hierarquia escolar, mas tampouco estava entregue a si mesmo; ou residia perto de uma escola com sua família, ou, na maioria das vezes, morava com outra família à qual havia sido confinado a um contrato de aprendizagem que previa a freqüência a uma escola. Aliás, ele pertencia a uma sociedade ou a um bando de companheiros: tinha que entrar para associações, corporações, confrarias ou o estudante seguia um mais velho e em troca era surrado e explorado. O fato é que uma camaradagem às vezes brutal porém real regulava sua vida cotidiana, muito mais do que a escola e seu mestre, e, porque essa camaradagem era reconhecida pelo senso comum, tinha um valor moral.
Porém a partir do fim da Idade Média, o sistema de camaradagem se deteriora gradativamente, então a juventude escolar seria organizada com base em novos princípios de comando e de hierarquia autoritária, surgem idéias novas da infância e de sua educação: para o Cardeal d’Estouteville, as crianças não podiam ser abandonadas sem perigo a uma liberdade sem limites hierárquicos… os educadores eram responsáveis pelas almas dos alunos perante Deus; seus deveres não consistiam apenas em transmitir, como mais velhos diante de companheiros mais jovens, os elementos de um conhecimento. Eles deviam também formar os espíritos, inculcar virtudes, educar tanto quanto instruir. Duas idéias surgem ao mesmo tempo: a noção da fraqueza da infância e o sentimento da responsabilidade moral dos mestres. Portanto, o sistema disciplinar teria que fugir das raízes da antiga escola medieval, onde o mestre não se interessava pelo comportamento de seus alunos fora da sala de aula. Para definir esse novo sistema, três características: a vigilância constante, a delação erigida em princípios de governo e em instituição, e a aplicação ampla de castigos corporais.
A disciplina humilhante – o chicote e a