Uma genealogia da formação do psicólogo brasileiro
FERREIRA NETO, João Leite
A formação do psicólogo no Brasil e a estrutura curricular oferecida pelas universidades vêm mudando significativamente desde a sua regulamentação, em 1962. É impossível desvencilhar as mudanças nos campos de saberes da psicologia aos acontecimentos históricos e sociais de cada época.
A regulamentação da psicologia no Brasil (1962) se deu em meio ao regime militar (1964 - 1984); nessa época (1964 - 1973), houve ainda, o chamado "milagre econômico", determinante na economia do país, logo, na vida da população.
O milagre econômico reforçou a visão clássica da psicologia essencialmente clínica liberal privada, voltada principalmente para as classes médias e altas da população (Lo Bianco, Bastos, Nunes, & Silva, 1994). Esse momento histórico também refletiu no fortalecimento do projeto individualizante e psicologizante da família nuclear, hedonista, de valorização do corpo e do psiquismo, semelhante aos parâmetros típicos das sociedades de consumo desenvolvidas democráticas (Velho, 1981; Vaitsman,1994; Coimbra, 1995).
O segundo momento histórico significativo foi a recessão econômica (1973 - 1979), que desencadeou uma importante mudança nos modos de vida e de subjetivação da população brasileira. Além disso, ocorreram diversos movimentos populares, entre 1975 e 1985, autônomos em relação ao estado, influenciando também os novos modos de ser e de viver.
Os decorrentes movimentos sociais desse período trouxeram a política para o cotidiano, visão contrária à anterior de que a política era pertencente ao governo e que a competência das pessoas deveria estar restrita ao trabalho, ao estudo, em fim, à ascensão social. A "Nova república" traz a redemocratização da vida política brasileira.
A visão clássica da psicologia (até anos 80) corroborava com a situação vivenciada pela população, a extraterritorialidade e tentativa da neutralização do social, como se o fato