Uma ciencia que perturba
P - Comecemos pelas questões mais evidentes: as Ciências Sociais e, em particular, a sociologia, são realmente ciências? Por que você sente a necessidade de reivindicar a cientificidade?
- A sociologia me parece ter todas as propriedades que definem uma ciência.
Mas em que grau? Eis a questão. E a resposta que se pode dar varia muito de acordo com os sociólogos. Eu diria apenas que há muita gente que se diz e pensa que é sociólogo e que, confesso, tenho um pouco de dificuldade em reconhecê-los como tais. Em todo o caso, já faz muito tempo que a sociologia saiu da pré-história, isto é, da idade das grandes teorias da filosofia social, com a qual os leigos freqüentemente a identificam. O conjunto de sociólogos dignos deste nome admitem um capital comum de aquisições, conceitos, métodos, procedimentos de verificação. Resta o fato de que, por razões sociológicas evidentes − e entre outras porque freqüentemente ela desempenha o papel de disciplina refúgio −, a sociologia é uma disciplina muito dispersa (no sentido estatístico do termo) e isto sob diferentes pontos de vista. O que explica porque a sociologia tem a aparência de uma disciplina dividida, mais próxima da filosofia do que das outras ciências.
Mas o problema não está aí: se somos tão exigentes quanto à cientificidade da sociologia é porque ela perturba.
P - Você não foi levado a se colocar questões que são também colocadas objetivamente às outras ciências, embora os cientistas não se tenham, concretamente, colocado estas questões?
- A sociologia possui o triste privilégio de ser incessantemente afrontada quanto à questão de sua cientificidade. Somos mil vezes menos exigentes em relação à História ou à Etnologia, para, não falar da Geografia, da Filosofia ou da
Arqueologia. Constantemente interrogado, o sociólogo se interroga e interroga sem cessar. O que leva a crer num imperialismo sociológico: o que é esta ciência
1