Um papel secundário: o espectador
O teatro é espetáculo – por conseguinte, forma de socializar as relações humanas que não implica o espectador como variável mas como constante. Tal presença não é uma alternativa, mas isto sim, algo imperativo. Variável e alternativa é a maneira de integração dos espectadores no espetáculo teatral. Essa maneira de integração engendra, no último período, numerosas tensões. Dentre elas destaco as seguintes:
1. face à evolução demográfica, a audiência dos teatros é, em certos países europeus, inferior ao nível atingido um quarto de século antes;
2. os sucessos de público constroem uma hierarquia da criação teatral segundo uma escala de valores sensivelmente diferente daquela dos criadores e especialistas.
Grande parte dos espectadores possui tendência a criar uma imagem desestetizante dos espetáculos a que assistiu.
As causas desses fenômenos são procuradas, geralmente, no interior do espetáculo. Tal orientação me parece perfeitamente legítima. Penso, no entanto, que existem causas que surgem fora do espetáculo – mais exatamente, causas cuja origem deve ser procurada na maneira como o teatro se articula com o conjunto social a que pertence.
Tal hipótese me obriga a uma definição do conceito fundamental – no caso, o espetáculo de teatro – definição essa que, tendo em vista o tipo de abordagem, deve ser operatória. Fazendo abstração, por causa das servidões metodológicas, de certas fórmulas particulares (happening etc.), vou considerar o espetáculo de teatro como uma associação humana que tem uma estrutura e funções específicas. A essência dessa associação é a ação programada no sentido da construção de uma experiência humana simulada e a percepção dessa construção à medida do seu desenvolvimento. As duas ações fundamentais do espetáculo – a construção e a percepção – estão rigorosamente separadas. Conseqüência: as pessoas que constituem a ação chamada espetáculo estão, por sua vez, separadas em protagonistas e espectadores, em conformidade com uma