Um olhar medieval sobre o brasil colônia
O texto inicia-se com uma proposta: o olhar múltiplo que as Ciências Humanas podem oferecer à análise de um mesmo objeto, no caso, o Estado absolutista e o período colonial do Brasil. Apesar da recorrência na historiografia de se enxergar o Estado moderno como uma ruptura do mundo medieval, Nascimento procura demonstrar que, muitas vezes, os historiadores já olham para esses Estados à procura de elementos que o identificarão como diferente do período anterior. O caso do Estado português é muitas vezes visto como um Estado esquizofrênico - usando o termo da própria autora –, pois ao mesmo tempo em que ele estaria voltado para a economia do mundo moderno, está ainda bem preso à mentalidade e aos valores cristãos medievais. Nascimento aponta, entretanto, que, ao olharmos o Estado português ainda na perspectiva do mundo medieval, veremos que os seus elementos nada têm de anacrônico ou de esquizofrênico, valendo o mesmo ao aplicarmos a mesma hipótese para o Brasil colônia. Seria possível vislumbrar pluralidade das esferas de poder e o Estado seria mais uma entre tantas outras. No caso do Brasil, a distância em que o poder central se encontrava da colônia parece deixar mais claras essas outras esferas. A autoridade reconhecida não é apenas a do Estado, mas a daqueles que se demonstravam competentes em deixar a comunidade a salvo, no campo físico e espiritual. A estruturação do poder dentro da colônia se daria, portanto, em dois níveis: as relações impessoais e as interpessoais. Esta atrelaria os indivíduos às instituições enquanto aquelas são baseadas em interesses comuns e/ou parentesco e não contava com o reconhecimento oficial. A estreita relação entre a lei, a religião e o código moral faz deles um corpo harmônico, pois o direito não é visto apenas como uma imposição dos mais fortes sobre os mais fracos, mas como um amálgama de práticas antigas e novos valores que