Um múltiplo tesouro chamado clarice
Samily de Araujo de Almeida*
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MIRANDA, Ana. Clarice: ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 96 p.
Numa época em que as culturas delicadas são ameaçadas pela força de uma cultura universal, temos no Brasil a escritora Ana Miranda que realiza um trabalho de redescoberta e valorização do nosso tesouro literário, dialogando com obras e autores de nossa literatura. Ana Miranda nasceu em Fortaleza, em 1951. Cresceu em
Brasília e mora no Rio de Janeiro desde 1969. Estreou na literatura em 1978, com um livro de poesia. Como romancista, publicou Boca do Inferno (1989), O retrato do rei (1991), Sem pecado (1993), A última quimera (1995), Desmundo (1996),
Amrik (1997), Noturnos (1999) e Dias e dias (2002), todos pela Companhia das
Letras. Suas obras tem sido matéria de estudos na área acadêmica, recebendo teses e monografias, geralmente ligadas a questões de literatura & história, barroco brasileiro, romantismo, ou pós-modernidade.
O livro resenhado “Clarice” faz parte de uma vasta pesquisa de Ana Miranda acerca do nosso tesouro brasileiro: a escritora Clarice Lispector. Entretanto a obra não se configura em uma biografia sobre Clarice Lispector, o foco será a vida literária da autora. A obra de Ana Miranda reflete o que pensamos sobre a escritora
Clarice Lispector, o que imaginamos que ela seja, ou seja, utilizando as palavras da orelha do livro “[...] talvez por isso a protagonista deste livro seja efetivamente um ser feito de palavras. As palavras de uma Clarice que está dentro de cada mulher. É como se Ana Miranda tivesse feito uma biografia da alma clariceana” (grifo nosso). Ao decorrer das páginas vamos encontrar uma Clarice sob o olhar e reflexões de
Ana Miranda e também uma Clarice que será construída através da nossa leitura.
Em “Clarice” temos uma novela que é constituída, sobretudo de intertextualidade e dialogismo. Intertextualidade no sentido de