um conto chines
Foi bastante curioso ter assistido ao filme argentino “Um Conto Chinês” poucos dias depois do peruano “Outubro” (vencedor do Un Certain Regard no Festival de Cannes). O bom filme peruano de Diego Vega Vidal é “devagar, quase parando”, numa monotonia que chega a ser por demais chata e irritante para o espectador. Já o excelente filme argentino de Sebastián Borensztein é um filme também em ritmo lento, mas que em momento nenhum traz ao cinéfilo a sensação de chatice ou calmaria exagerada.
Tudo é muito metódico, monocórdio, repetitivo na vida do solitário Roberto: sem vida social, sem vida amorosa (apesar de assediado pela esperançosa Mari), apenas uma loja para administrar (com um humor que não é lá grandes coisas)… até que de repente surge um chinês em sua vida, “do nada”, que atrapalha o padrão de cotidiano estabelecido há anos na vida desse morador de Buenos Aires.
Já seria um filme recomendado unicamente pelo fato de Roberto ser vivido com maestria pelo excelente (e onipresente no atual cinema argentino) Ricardo Darín (protagonista do recente, premiado e excepcional “O Segredo dos Seus Olhos” — leia a resenha do Cinema é Magia clicando aqui). Mas a história, bem humorada sem ser cha(co)ta, tocante sem ser clicheteira, arrebata o espectador por sua simplicidade em ser contada com a mesma contenção da vida do protagonista.
O acaso na vida do argentino, que não fala chinês, não é maior que o acaso de uma história inacreditável que aconteceu na vida do chinês, que não fala espanhol, antes deste vir para a Argentina (destaque também para a atuação de Ignacio Huang). Mas, certamente, não foi por acaso que “Um Conto Chinês” é um dos maiores sucessos do cinema argentino este ano. Não há nada de belo no filme, pelo menos não na superfície — ruas, casas, roupas. Mas a beleza toda está ali, até nos motivos da ranzinzice de Roberto, ou no desespero da falta de comunicação verbal entre ambos.
Um dos maiores méritos do filme é