Uber Coca - Artigo de Freud sobre a cocaina
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ÜBER COCA por Sigmund Freud
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econhece-se não somente um exíguo número de trabalhos, artigos e pesquisas psicanalíticas sobre as toxicomanias, como também um retardo quanto às contribuições da psicanálise para esta clínica. Poder-se-ia perguntar sobre quais sejam os determinantes desta constatação. Uma retrospectiva histórica para buscar, nas origens da psicanálise, qual a relação entre o aparente desinteresse da psicanálise sobre o tema da toxicomania e a experiência singular que Freud estabeleceu com a cocaína é a nossa proposta, ao trazermos, a seguir, o texto de Freud sobre essa droga.
Freud se interessa pelo produto e inicia suas pesquisas em 1883, após a leitura de um artigo de Aschenbrandt que descreve o efeito da cocaína em soldados. Ele a experimentou em si mesmo regularmente, bem como solicitava que colegas a experimentassem para somar informações a sua pesquisa.
O envolvimento de Freud com a cocaína, porém, não ocorreu apenas pelo uso do produto para obtenção de diferentes efeitos, tais como a autoconfiança em relação a sua virilidade e o alívio da sinusite. O motivo que o levou a pesquisar a cocaína relacionava-se ao desejo de nela encontrar um remédio milagroso, o que viria a destacá-lo na comunidade científica da sua época. Freud, entretanto, mostrava-se ambivalente em relação à cocaína. Ora pressentia que sua investida podia ser uma ilusão, frente à qual reservava certa descrença, ora aventurava-se em apostar em uma perspectiva inovadora, frente a algo desconhecido. Estaria Freud fascinado com a possibilidade de ter encontrado o produto capaz de muitas coisas, inclusive de tirá-lo do anonimato e de salvar seu amigo Fleischl da morfinomania?
ÜBER COCA
Alguns anos depois, Freud foi acusado por Erlenmeyer de dar vazão à terceira praga da humanidade, depois do álcool e da morfina. Freud, em defesa própria, escreve um artigo, redigido em 1887, chamado Observações sobre o cocainismo e a