Três homens em três obras literárias
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DLCV – LITERATURA PORTUGUESA III – 2010
PROF. PAULO MOTTA
ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS PERSONAGENS MASCULINAS DE
O CRIME DO PADRE AMARO, DE EÇA DE QUEIRÓS, E
MADAME BOVARY, DE GUSTAVE FLAUBERT
SÃO PAULO, 27 DE MAIO DE 2010
Carlos Bovary, Amaro
Carlos é um médico de cidade pequena. Pouco imaginativo, ambicioso. Amaro é pároco de cidade pequena. Condicionado à disciplina da educação religiosa, é devoto, acredita e tem ambições resfriadas pelo plano de vida que teve como opção – tendo tido, como Carlos, limitações financeiras quando jovem.
Carregada de simbolismo, a primeiríssima parte do livro, em que há extensa descrição de como se portou na sala, de como era seu boné, não se trata de complexa descrição realista de seus dias escolares, mas mostrada de modo a se ter ideia de sua personalidade e de como seria futuramente seu desenvolvimento. Nota-se como Carlos deve trabalhar diligentemente em qualquer coisa que qualquer outra pessoa consideraria fácil. Nele, falta a arrojada imaginação que caracteriza seu pai, responsável por traçar plano educativo que levasse o filho a ser bem-sucedido. A constante luta que Carlos trava para alcançar quase tudo é parte de sua essência natural; ele não tem talentos natos, tem de trabalhar duro para não alcançar mas os resultados mais simples.
Desde a escola, Carlos percebe que, quando relaxa, acaba por se conceder um pouco de reflexão inobjetiva e falhar – nos exames, no lidar com as pessoas. Além disso, é do tipo que se mostra facilmente manipulável por uma mulher.
Já Amaro, por seu lado, é objetivo e observador. Como a ele não cabe ser inventivo mas sim conforme e disciplinado, falando menos calculou e penetrou seu recém-descoberto poder de influência política, sexual... Auerbach menciona a exclusiva possibilidade de um pequeno-burguês ascender a uma posição de destaque social através da Igreja,