Tristeza
Como lidar com a tristeza
Nunca tanta gente teve depressão no mundo. São 350 milhões de pessoas nessa condição - boa parte nem sabe disso. O que está acontecendo conosco? O que devemos fazer a respeito? por Reportagem: Carol Castro Edição: Felipe van Deursen
* Com reportagem de Cristine Kist e Felipe van Deursen
A morte era iminente. E lenta. A notícia sobre a doença terminal do marido afogou Estela na maior dor possível. Ela não sabia como agir. Cuidou dele todos os dias, por cinco anos. Mas era mais do que podia suportar. Sentia raiva do mundo. Ninguém poderia entender de verdade
- a dor era dela. Ainda assim, queria a ajuda dos amigos, mas sem ter de pedir, sentia-se invadida. Se tentassem ajudar, ficava brava. Se não tentavam, pior ainda. Aos poucos se afastou de todos, isolando-se na própria e devastadora dor. A vida não tinha mais graça. E não era um momento passageiro. Tudo era chato, sem cor, sem prazer. Os tempos de alegria haviam sido uma ilusão tola, pensava. Estela sabia que nunca mais encontraria esse falso prazer. Depois piorou. Quando o marido morreu, ela se sentiu aliviada. E esse alívio a destroçou com uma sensação de culpa do tamanho do mundo. Queria morrer junto. A depressão se fincou nela.
Estela, que prefere usar um nome fictício, é uma entre as 350 milhões de pessoas com depressão no mundo. Um número que só aumenta e que virou um problema de nossa era: só nos Estados Unidos, o consumo de antidepressivos aumentou 400% em 20 anos. Mas, historicamente, depressão é um conceito que surgiu outro dia. Por séculos, ela era uma doença misteriosa chamada apenas de melancolia. "Perdi toda a alegria e descuidei-me dos meus exercícios habituais", disse Hamlet logo após o assassinato do pai. Se vivesse hoje, o personagem de Shakespeare certamente entraria na mira dos médicos. Ele seria enquadrado no DSM-V, a bíblia da psiquiatria, que identifica e diagnostica os transtornos mentais. Hamlet, sob os olhos da medicina