Trilha para o Fim do Eu - Narrativa sobre Meditação Vipassana
Eduardo Reis
“A realidade se enquadra dentro da moldura do corpo” - S.N. Goenka
Bem-vindo ao Nobre Silêncio
Toca o sino. Aos poucos a calmaria da madrugada nebulosa em meio a Serra do Couto (Região Centro-Sul do Estado do Rio de Janeiro) começa a ser tomada por uma movimentação surda. São 4h da manhã do dia 22 de janeiro de 2009. Em minutos, cerca de 30 homens, com caras de sono, vestidos com roupas simples, chinelos ou galochas, caminhavam pela pequena trilha enlameada em passos lentos, fila indiana e olhares voltados ao chão. Nenhuma palavra proferida. Nenhum cumprimento. Apenas o contato dos calçados ritmados com a terra molhada e o roçar dos tecidos das roupas não permitiam silenciar.
A temperatura havia caído no decorrer da madrugada. E a elevada umidade do ar na região montanhosa de Miguel Pereira – considerada a cidade com o terceiro melhor clima do mundo – molhava a vegetação nativa e formava uma névoa espessa que limitava a visão a palmos de distância dos olhos.
Na noite anterior, o reduzido alcance visual, o coaxar dos sapos e o ruído de animais invisíveis que transitavam pela mata escura, contribuíam com o aumento da expectativa do silencioso grupo. Pela primeira vez, eles estavam a caminho do salão do Centro Dhamma Santi. O trecho, de não mais que 50 metros, seria rota de ida e vinda para aqueles homens que resolveram se retirar da vida cotidiana para viver como monges por dez dias.
Da sacada que nos leva à porta de entrada masculina, através de uma janela coberta por um mosquiteiro, é possível ver o interior do espaço destinado à meditação. A pouca luz ilumina apenas a sombria silhueta de um homem totalmente imóvel sentado com as pernas cruzadas sobre um tablado posto junto à parede. Coberto com um manto branco, o corpo pouco reclinado para a frente, o homem magro e de semblante sereno permanece de olhos fechados enquanto os novos estudantes adentram e tomam seus lugares. Silêncio.
O salão fica no