Transferência
O texto A transferência de Freud a Lacan, de Jacques-Alain Miller, trata, principalmente, de nos dar uma idéia do fenômeno da transferência presente na obra de Sigmund Freud e sua multiplicidade, até a proposição de Jacques Lacan do sujeito suposto saber. De partida, Miller já nos demonstra que, ao contrário do que se pensa, a transferência é um fato raro, apesar de ser tida, pelo consenso dos analistas, como o motor terapêutico e o princípio de poder da psicanálise. Ademais, ele discorrerá sobre o modo como os psicanalistas atuais utilizam-se da conceitualização freudiana e mesmo a lacaniana: esses autores funcionam como o sujeito suposto saber; assim, seus “discípulos” tratam apenas de utilizar seus conceitos sem levar a cabo um raciocínio crítico sobre esses mesmos conceitos: Lacan o fez com Freud, mas não se o faz com Lacan atualmente.
Isto é, pensa-se que estão de posse do saber que os concerne. Por conseguinte, demonstrar o que é o conceito de sujeito suposto saber é o objetivo de Miller neste texto.O sujeito suposto saber é estabelecido por
Lacan como uma função inédita no fundamento da transferência. Esta função não está presente em Freud; na verdade, ela será o “pivô” dos fenômenos da transferência. A partir da suposição de saber do analisante ao analista; é a partir daí que se fundamenta a análise. Miller dirá que o sujeito suposto saber é transfenomênico: o seu fundamento é diferente daquele dos fenômenos produzidos na transferência, já que trata de articular conceitualmente esses fenômenos. O sujeito suposto saber trata de articular as três formas de transferência delineadas por Freud: 1) aquela identificada à função de tropo, de deslize de sentidos provocado pelo desejo; 2) aquela identificada à função de resistência, na dificuldade de caminhar a análise; e
3) aquela identificada à função de sugestão, na função de ingresso do analista no complexo inconsciente do analisando. Estas três formas