Trabalhos
A esse recurso estilístico enfático chamamos anadiplose, figura de linguagem que consiste na repetição de termos já dispostos num fim de frase, ou verso, no início de uma sentença seguinte.
Veja outro caso de anadiplose neste trecho de uma cantiga retirada do romance “As Pupilas do Senhor Reitor”, do escritor português Júlio Diniz:
“Morena, morena
De olhos galantes
Teus olhos, morena
São dois diamantes:
São dois diamantes
Olhando-me assim
Morena, morena
Tem pena de mim”.
Ferreira Gullar também se utiliza deste recurso ao escrever o poema “Ovni”:
“(...) Eu guardo o espelho
o espelho não me guarda
(eu guardo o espelho
a janela a parede
rosa
eu guardo a mim mesmo
refletido nele):
sou possivelmente
uma coisa onde o tempo
deu defeito”.
Cruz e Sousa, poeta parnasiano, também utiliza a anadiplose nos seus versos:
“Sonho Profundo, ó Sonho doloroso,
doloroso e profundo sentimento!
Vai, vai nas harpas trêmulas do vento
chorar o teu mistério tenebroso”.
Já Caetano Veloso repete uma expressão que se encontra no meio de um verso:
“Um índio descerá de uma estrela colorida brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante”.
Manuel Bandeira também utiliza o recurso da anadiplose, no poema “O Grilo”, escrito em forma de diálogo:
- Grilo, toca aí em solo de flauta.
- De flauta? Você me acha com cara de flautista?