trabalhos
Entendo que há emissoras que são parceiras da Fifa nas transmissões e que, por conta disso, evitam ir muito à fundo ao tratar dos protestos contra grandes obras relacionadas à Copa das Confederações. Mas fariam um favor supremo se ajudassem aos seus telespectadores a entenderem que não é de agora que essa “horda de bárbaros'' que protesta em torno dos estádios de futebol está possessa. Se bem que até um tatu-bola com problemas de aprendizagem já estava sabendo que, quando chuteiras começassem a correr nos gramados, essa bomba explodiria, considerando a raiva que muita gente está sentindo das nababescas instalações desportivas em comparação com a vida cotidiana. Pão e circo tem limite.
As manifestações pela revogação no aumento da tarifa, e a consequente violência policial contra elas, trouxe um mundaréu de pessoas e suas pautas às ruas. Entre elas, os que estavam com os efeitos colaterais do desenvolvimento entalados na garganta. Nos últimos anos, o Brasil se tornou um imenso canteiro de obras visando à Copa do Mundo, às Olimpíadas, à produção de energia elétrica, à construção de casas e escritórios, à prospecção de petróleo e gás, isso sem contar as obras-fantasma previstas em compromissos de campanha.
O problema é que havia gente morando nos locais escolhidos para essas obras.
Então, a fim de garantir que ninguém interrompesse este país (um gigante que caminha impávido para cumprir seu destino glorioso), remove-se, expulsa-se, retira-se. Degreda-se. Para onde? Pouco importa, contanto que não atrapalhe a marcha em direção ao futuro (BG: Sobe som do Hino Nacional e mãozinha sobre o coração).
Certo dia, um fazendeiro português com terras no Mato Grosso disse a Pedro Casaldáliga, símbolo da luta pelos direitos do campo no Brasil, para justificar o injustificável: “Dom Pedro, o senhor é europeu, o senhor sabe. As calçadas de Roma foram feitas por escravos. O progresso tem seu preço''.