Clube da Luta: um soco na sociedade do consumo “Eu sou o frio na espinha de Jack. Aquele frio de ódio de estar em vários lugares. A onipresença do que não existe dentro de cada um de nós” Dezenas de homens estão reunidos no porão de um boteco. Eles rodeiam dois novatos do grupo que, sem camisas e sapatos, espancam-se de punhos cerrados. No grupo, há garçons, executivos, cozinheiros, advogados, médicos e até policiais. Mas ali nenhum deles tem nome ou profissão. No clube, eles são um só. Nesse instante, entram em cena o proprietário do bar e seus capangas. Armados. Interrompem a luta e ordenam que aquele bando de “irresponsáveis” saiam dali para sempre. Tyler Durden, o líder, pede permissão para continuarem as reuniões. Recebe como resposta um soco. Continua a provocação e leva uma surra do dono do bar. Tyler recebe os golpes às gargalhadas, assustando os membros do clube. Por fim, se joga em cima do agressor que, desesperado com o homem maltrapilho e surrado cuspindo sangue em seu rosto, acaba aprovando a continuidade do clube. Após a surra, Tyler é carregado pelos outros e colocado numa cadeira. É o momento em que passa a primeira lição de casa para os membros do clube. “Nesta semana”, diz com dificuldade, “vocês vão provocar uma briga com alguém... e vão perdê-la”. Essa é uma cena de um dos filmes mais representativos dos tempos pós-modernos, Clube da Luta, de David Fincher, lançado em 1999. Fincher adaptou o livro homônimo do escritor norte-americano Chuck Palahniuk e brindou os amantes da telona com uma verdadeira obra-prima. Clube da Luta toca na ferida da sociedade de consumo. Apresenta a negação do ser humano ao mundo das mercadorias globalizadas como raras vezes se viu no universo artístico. O filme aponta: tão vazio como as coisas são os consumidores atuais, perdidos entre cartões de crédito, logomarcas e informações para consumo. O protagonista e narrador (Edward Norton) é um executivo de uma companhia de seguros, do qual, do início ao fim do