Trabalhos
DOSSIÊ DEMOCRACIA, POLÍTICOS E PARTIDOS
Apresentação Paulo Roberto Neves Costa
Como prega Giovanni Sartori (1994), pensar a democracia exige a construção de “argumentos corretos corretamente articulados”, dado que seu funcionamento tem como premissa, em geral pouco lembrada, que “idéias erradas sobre a democracia fazem a democracia dar errado”. Não é fácil pensar (nem praticar) corretamente a democracia, ainda mais numa sociedade onde o regime democrático apenas recentemente retomou o seu processo de institucionalização, como é o caso brasileiro. A título de reflexão, podemos nos valer de algumas singelas idéias de um punhado de autores do século passado para comentar certos fatos e comportamentos recorrentes que fazem parte do cotidiano nacional a fim de restaurar a “clareza mental” que o mesmo Sartori associa à democracia (sem a ingenuidade de acreditar que os problemas do funcionamento concreto e da análise teórica da democracia têm como causa exclusiva a obscuridade dos princípios e a confusão das idéias). Ao olharmos para a “experiência democrática” no Brasil hoje, observamos, entre outros problemas, a existência de uma tensão não resolvida entre democracia e discurso técnico, tensão esta que aparece — quer se tome a atitude, quer se tome as idéias de jornalistas, entidades, políticos, analistas e “cidadãos” — na prática recorrente da desqualificação (técnica, política ou moral) dos antagonistas — quando não simplesmente sua satanização. Como se sabe, Weber (para quem a desqualificação dos adversários é o mais vergonhoso dos excessos que se pode cometer na política), considerava como uma característica fundamental do Estado Moderno e um ingrediente imprescindível da democracia a existência de uma administração pública fundada na competência. Este nem de longe parece ser o caso brasileiro, para dizer o menos.
Mas Weber tinha outra preocupação “clássica”: apontava como ameaça à democracia não só a