Trabalhos
Katadreuffe (Fedja van Huet) é um rapaz retraído, dono de inteligência singular, que mantém um relacionamento de quase absoluta incomunicabilidade com sua mãe, Joba (Betty Schuurman). Filho ilegítimo do poderosíssimo e temido oficial de justiça Dreverhaven (Jan Decleir), Katadreuffe almeja tornar-se advogado e esforça-se para isso, contando com o apoio discreto de De Gankelaar (Victor Löw) e a oposição sempre ferrenha de seu pai, que o obriga a pagar uma antiga dívida.
Contado como um longo flashback, o filme inicia-se com a insinuação de um terrível embate físico entre pai e filho que culmina na morte de Dreverhaven; toda a narrativa será conduzida para tentar elucidar o que aconteceu naquela noite. O desconhecido diretor Mike van Diem passa a contar a história desde o nascimento de Katadreuffe (juro que ainda decoro estes nomes) até sua ascensão a advogado respeitado na sombria Roterdã do início do século XX. É uma longa e bem urdida tragédia – da magnífica e sóbria fotografia a trilha sonora pesadona, tudo contribui para a percepção de que não haverá redenção alguma para os personagens. Caminhando sobre uma linha tênue entre o grandioso e o exagerado, é surpreendente que Caráter nunca passe para o lado negro da força. É um filme forte, que lembra em vários momentos (e como muita gente lembrou à época de seu lançamento) Charles Dickens, quando na verdade o roteiro é baseado num clássico da literatura holandesa, escrito por Ferdinand Bordewijk.
A ótima direção de atores torna o conflito entre os personagens ainda mais doloroso. Temos a impressão, em todo o filme, que apenas uma frase ou gesto seria capaz de reestabelecer a comunicação entre eles, mas são incapazes disso. Todos parecem resignados a um destino que eles mesmos montam, como se suas escolhas sempre tivessem de resultar trágicas – por exemplo, descobrimos que Dreverhaven tentara, mais de uma vez, entrar em contato com Joba, mas