Trabalhos feitos
— e, mesmo que houvesse, eu não saberia usá-lo, sou avesso a essas coisas. Vejo-me diante de uma espinhosa tarefa: combinar muito bem a vivência interior, representada sobretudo pela re-8 cordação e pela reflexão, com a vivência exterior, inevitavelmente limitada pela solidão, pela incapacidade física, pelo fato de que tenho mais amigos entre os mortos do que entre os vivos. E, de novo, qual a fórmula adequada para essa combinação? Setenta por cento de vivência interior com trinta por cento de vivência exterior? Quarenta por cento de interior com sessenta por cento de exterior? O clássico meio a meio? Ou quem sabe quarenta e cinco por cento de cada — os dez por cento que sobram ficando reservados para aquele misterioso e indefinido território que não é nem interior nem exterior, mas que pode estar em cima, embaixo, ou em dimensão nenhuma?
Não sei. Só sei que recordar é bom, e é das poucas possibilidades que me restam, de modo que recordo. É uma espécie de exercício emocional, é um estímulo para os meus cansados neurônios, mas é