Trabalho
A cegueira não machuca, não dói, não limita tão radicalmente como pensam os que enxergam quando fecham os olhos por um minuto imaginando serem cegos, e também não é doença. É somente uma diferença. Ser cego é ser apenas diferente, mas é ser tão igual no pensar, no agir, no querer, no fazer e no sentir.
Claro que a cegueira coloca um limite maior, mas isso é consequência de como a sociedade encara essa deficiência.
O desejo de fazer um documentário sobre o "olhar" através das deficiências visuais inspirou os míopes João Jardim e Water Carvalho a produzirem o encantador documentário Janela da Alma.
Quando se fala de visão é inevitável não adentrar no universo das imagens.
O filme procura mostrar de qual forma a deficiência visual tem sido vivida como eficiência por muitos artistas que precisam do “olhar” para criar.
“As pessoas não sabem mais ver, pois não têm mais o olhar interior. Vive-se um tipo de cegueira generalizada (Fotógrafo Evgen Bavcar; cego).”
“Os olhos são a janela da alma, o que vemos é mudado pelas nossas emoções... desespero, conhecimento, eu não posso ver, mas posso ver, vejo com os olhos da mente.(Oliver Sacks)”
Revelações fantásticas chamam a nossa atenção para as particularidades do viver, fazendo-nos um convite a enxergar o que não vemos.
WIM WENDERS (CINEASTA): Ver com o ouvido de ouvir, ver com cérebro, ver com o estômago e ver com a alma. Atualmente, as estórias têm que ser extraordinárias para nos comoverem. Não conseguimos mais ver o simples.
OLIVER SACKS (NEUROLOGISTA, ESCRITOR): O olhar não se limita a ver o visível, ele também vê o invisível (a imaginação). Separar o olhar da emoção é uma doença: síndrome de Capgras (a emoção é separada da imagem). Quando a imagem visual é desconectada da emoção, segue-se uma grande crise nervosa. Olhos da mente.
Se expandir-se é enfrentar o próprio limite, o que de fato amplia a visão