Trabalho
Psicoterapia existencial: Esboço de uma problematização (*)
VICTOR AMORIM RODRIGUES (**)
Se algum acordo há no seio dos vários autores da área da psicoterapia existencial é o da defesa unânime da relação terapeuta-paciente, como ponto fulcral da prática psicoterapêutica. Este acordo estende-se aliás a praticamente todos os estudos de psicoterapia. O consenso universal assim estabelecido não passa sem problemas, na medida em que, se são os factores inespecíficos relativos à qualidade da relação terapêutica o que verdadeiramente importa na psicoterapia e, provavelmente, em qualquer forma de relação de ajuda, independentemente do valor teórico, da preparação técnica, ou da experiência do terapeuta, somos forçados a dar razão a Raymi (1964), quando define psicoterapia como “uma técnica indefenida, aplicada a casos não específicos, com resultados imprevisíveis. Para esta técnica é necessário um treino rigoroso.” A insistência neste ponto de vista, que de resto tem suporte empírico, implica, quer queiramos,
(*) O presente artigo é baseado num Seminário sobre relação terapêutica, ocorrido no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, no âmbito do Mestrado de Relação de Ajuda – “Perspectivas da Psicoterapia Existencial”, mantendo, por essa razão, as marcas próprias da oralidade. (**) Médico Psiquiatra. Docente no Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Membro da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Existencial e da Sociedade de Psicoterapia Existencial e Psicomaêutica do Rio de Janeiro.
quer não, uma reflexão aprofundada sobre o papel da teoria, que deste modo passa implicitamente a irrelevante, aumentando a clivagem, que sempre foi problemática, entre teoria e prática. Se a questão se coloca em toda e qualquer forma psicoterapêutica, reveste-se de especial acutilância na psicoterapia existencial, dada a sua inspiração filosófica. Com efeito, não é impunemente que se faz a passagem de um campo de reflexão teórica, ainda que centrada