Trabalho
Leonardo Boff
Ser humano: utópico e histórico Há uma polaridade humana em sua dimensão sociocultural: a utópica e a histórica. Aqui importa visitá-la na dimensão pessoal. O ser humano é um ser utópico que se desenvolve na história concreta. Como logo veremos, emerge de novo e com naturalidade a perspectiva águia/galinha.
Utopia e seus afins, fantasia e imaginação, não gozam de boa reputação na nossa cultura dominante. São sempre contrapostos à realidade. Face às propostas fascinantes de alguém diz-se: e utopia, e fantasia e pura imaginação. Não obstante, já há vários decênios, a reflexão sociológica e filosófica recuperou a eminente dignidade da utopia, da imaginação e da fantasia.
Para entender seu aspecto positivo, precisamos antes analisar criticamente a compreensão dominante de realidade, já que ela é contraposta à utopia. Que é o real para o homem moderno?
Real é tudo o que pode ser visto, sentido e tocado. Na ciência comum, real é aquilo que é objeto de uma experimentação empírica. Experimentação que pode ser repetida e traduzida por uma expressão matemática (metros quadrados, quanta de energia, etc.) ou por uma fórmula físico-química (miligramas de nitrogênio, de sulfato, de oxigênio, etc.). Real é o que é dado e está aí à nossa consideração, queiramos ou não.
Esta visão é em parte correta e em parte reducionista. É correta porque o real não deixa de ser algo dado. Mas é reducionista ao entender o dado como algo fechado e acabado em si mesmo. As reflexões que fizemos sempre insistiram: o dado é feito; tudo está nascendo e não acabou ainda de nascer; tudo vem carregado de possibilidades e potencialidades que constituem, exatamente, a condição da evolução. Se tudo fosse pronto e dado, não haveria evolução. Nós estaríamos ainda, gaiamente, saltando de galho em galho, comendo bananas e descendo das árvores como nossos ancestrais nas florestas tropicais da África, dez milhões de anos atrás.
Mas não. Evoluímos. Ativaram-se