Trabalho
TEXTO
No quarto de dormir de minha avó materna havia um móvel, com gavetinha e espelho, que todos na casa chamavam, sem qualquer afetação ou pedantismo, de coiffeuse. Na sala de jantar, guardavam-se os pratos em uma étagère. A étagère foi substituída, nos lares modernos, por um simpático aparador; a coiffeuse virou penteadeira e hoje praticamente desapareceu da vida cotidiana por falta de espaço. Os galicismos estão totalmente esquecidos. Naqueles mesmos tempos de minha infância, eu gostava de um sport que se chamava football e meu sonho era ser goalkeeper, embora a posição de center-forward me encantasse pela possibilidade de fazer muitos goals e influir no score, que era registrado no placard. Não precisa dizer que hoje o esporte se chama futebol, o goleiro defende a baliza e o ponta-de-lança faz muitos gols e vê seu nome se acender no placar eletrônico. Esses anglicismos já não mais o são. Quando menino, fantasiei-me no carnaval, ao final de guerra, de pracinha – homenagem da moda aos soldados brasileiros (praças) que lutaram na Europa – e de cowboy, que alguns já queriam apelidar de vaqueiro. Hoje ninguém saberia o que ara uma fantasia de pracinha, e o caubói existe sim, para designar o vaqueiro americano. Na minha juventude eu ia às boîtes, não a night-clubs ou cabarets, e tentava dançar o twist e o rock’n ‘roll. Hoje, fala-se de baile funk, cantam-se raps, mas ainda existem boates e festivais, não se sabe se de rock ou já de roque. Já cabarés e naiteclubes soam a coisas velhas, e quem vai nadar domingo na piscina do clube nem se lembra dos antigos e seletos clubs, como ainda aparecem hoje no Jockey Club ou o Yacht Club. Os estrangeirismos mudaram com a moda. Dizem que foi um lord, quer dizer, um lorde, inglês, com o título de Sandwich, quem, para não se levantar da mesa de carteado, teve a idéia de alimentar-se comendo carne, presunto, queijo e folhas entre fatias de pão. O sofisticado nobre britânico seria o inventor daquilo que