trabalho
Originalmente uma "Radcliffe-Brown Lecture" (Sahlins 1988b), o artigo em questão demonstra, contra Radcliffe-Brown, quão fecundo pode ser o estudo da história de sociedades indígenas. Para tanto, Sahlins analisa três sociedades Havaí, Kwakiutl e China , localizadas no "setor transpacífico do sistema mundial" e interligadas, desde o final do século XVIII, por um sistema de trocas, envolvendo populações nativas e mercadores ocidentais. Nesse contexto de contato, as sociedades havaiana, chinesa e kwakiutl são apresentadas como autoras de sua própria história e não como vítimas do capitalismo. O argumento é que suas posições no sistema mundial, já então globalizado, não eram passivas, mesmo quando enfrentavam graves crises demográficas.
Para construir o argumento, Sahlins evita reduzir a história daqueles povos a uma função das "condições materiais". Expande, assim, uma interpretação de Marx e da noção de práxis, baseando-se no Pensamento Selvagem de Lévi-Strauss, interpretação esta que já fora apresentada antes (Sahlins 1976:56): importa entender a produção da vida social como apropriação da natureza, mas a partir "de uma determinada forma de sociedade" e não de um conceito como o de modo de produção "que, em si mesmo, não especifica qualquer ordem cultural" (Sahlins 1988a:51).
Já no início do texto, o autor afirma que, negando integridade a outras culturas, as ciências sociais seriam uma forma acadêmica da dominação da sociedade capitalista (não deixa de ser irônico que, posteriormente, Obeyesekere (1992) tentará imputar essa mesma crítica a Sahlins). Mas Sahlins já nos avisava que realizar uma crítica ao imperialismo de uma perspectiva interior ao capitalismo não minimiza o problema, muito pelo contrário. Daí a importância da antropologia: mesmo se eurocêntrica, ela revela modos de incorporação da realidade capitalista por diferentes sistemas cosmológicos.
Sahlins criticava, então, a perspectiva globalizante dos marxistas modernos, uma crítica