Trabalho e Aventura
Surge a tipologia básica do livro, que distingue o trabalhador e o aventureiro, representando duas éticas opostas: Uma busca novas experiências, acomoda-se no provisório e prefere descobrir a consolidar;
A outra estima a segurança e o esforço, aceitando as compensações a longo prazo;
Entre esses dois tipos não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta como uma incompreensão radical. Ambos participam, em maior ou menor grau, de múltiplas combinações e é claro que, em estado puro, nem o aventureiro nem o trabalhador possuem existência real fora do mundo das ideias.
Nota-se que o continente americado foi colonizado por homens do primeiro tipo, cabendo ao “trabalhador”, no sentido aqui compreendido, papel muito limitado, quase nulo.
Aventureiros, sem apreço pelas virtudes da pertinácia e do esforço, foram os espanhóis, os portugueses e os próprios ingleses, que só no século XIX ganhariam o perfil convencional por que os conhecemos. Quanto ao brasil, essas características foram positivas, dadas as circunstancias, negando que os holandeses pudessem ter feito aqui o que alguns sonhadores imaginam possível.
O Português manifestou uma adaptabilidade excepcional, mesmo funcionado com desleixo e certo abandono : Em face da diversidade reinante, o espirito de aventura foi o elemento orquestrado por excelência.
A lavoura de cana seria, nesse sentido, uma forma de ocupação aventureira do espaço , não correspondendo a uma civilização tipicamente agrícola, mas a uma adaptação antes primitiva ao meio, revelando baixa capacidade técnica e docilidade ás condições naturais.
A escravidão requisito necessário desde estado de coisas, agravou a ação dos fatores que se opunham ao espirito de trabalho, ao matar no homem a necessidade de cooperar e organizar-se, submetendo-se, ao mesmo tempo, a influência amolecedora de um povo primitivo.