Ética tipologia da aventura e do trabalho
Texto de Sergio Buarque de Holanda
Quando Sérgio Buarque se propõe a discutir os contrastes entre uma ética protestante e uma ética católica, mais especificamente lusitana, recorre ao livro clássico de Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Neste livro, o autor de Raízes do Brasil encontra subsídios para uma discussão em torno de um ethos particular do capitalismo, que não teria se inserido na colonização portuguesa.
A ética protestante se peculiariza por exaltar o "trabalho" como um meio de aproximação do homem para com Deus. Além disso a vocação para o trabalho secular é vista como expressão de amor ao próximo. O trabalho não só une os homens, como proporciona aos mesmos a certeza da concessão da graça. Diferentemente do catolicismo, para o protestantismo a única maneira aceitável de viver para Deus não está na superação da moralidade secular pela ascese monástica, mas sim no cumprimento das tarefas do século, impostas ao indivíduo pela sua posição no mundo.
Logo, o efeito da Reforma, em contraste com a religião católica, foi engrandecer a ênfase moral e o prêmio religioso para com o trabalho secular e profissional. Constitui-se assim uma moral vinculada ao culto do trabalho. Este deve ser executado como um fim em si mesmo, como uma "vocação" que só pode ser encontrada através de um longo processo de Educação. O homem deve trabalhar, independentemente das condições impostas pelo tipo de serviço que executa, para ter a certeza de sua proximidade com Deus.
|"Pois o eterno descanso da santidade 'encontra-se no outro mundo, na terra, o homem deve estar seguro do seu |
|estado de graça', trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado. Não é pois o ócio e o prazer, mas |
|apenas a atividade que serve para aumentar a glória de Deus, de acordo com a inequívoca manifestação da sua |
|vontade".