TRABALHO Resenha Filme UMA CIDADE SEM PASSADO

O Filme “Uma Cidade Sem Passado” ou uma história sem testemunhos.
Marcos Garcia Gouvêa1

“Reunir os documentos que estima necessários é uma das tarefas difíceis do historiador”. Com essa afirmativa Marc Bloch inicia sua abordagem sobre “A transmissão dos testemunhos” no seu livro Apologia da História (BLOCH, 2001:82) e foram esses os desafios enfrentados pela jovem Sonja, protagonista do filme, interpretada por Lena Stolze. A produção de 1989 dirigida por Michael Verhoven, foi baseada em fatos ocorridos nos anos setenta na cidade de Pfilzing da Alemanha Ocidental. A jovem estudante vence um concurso literário e tem como prêmio uma viagem à Paris. Incentivada pela comunidade, participa de um segundo concurso e escolhe o tema Minha cidade durante o III Reich. Começa então o drama de Sonja. Pesquisar o passado e recontar uma história que desmontasse a versão criada para encobrir atos de crueldade e de conivência com o nazismo causava pânico não só aos cidadãos que viveram aquele momento bem como às instituições que os apoiaram. A jovem sofre perseguições, ameaças e agressões.
Pior do que o “esforço constante para fazer falar as coisas mudas” (FEBVRE, 1949) é o esforço de tentar ouvir quem não quer falar. Pfilzing não queria falar, ou pior, queria esconder. Foi necessário recorrer à justiça e processar a cidade para ter acesso à documentação. Cai o pano, brotam as feridas. Líderes religiosos anti-semitas; campo de concentração; experiências com seres humanos; uma nova verdade emerge na história daquela cidade.
O desfecho do filme é a repercussão internacional positiva do trabalho de Sonja, não restando à comunidade o reconhecimento e homenageá-la, homenagem que, entretanto, é recusada por parte da pesquisadora.
Seria ímpar o caso Pfilzing? Poderíamos simplesmente condenar aquela comunidade por tentar esconder suas mazelas? Foi-nos dito que “ser historiador é tentar tudo, experimentar tudo para preencher as lacunas da informação” (FEBVRE, 1949). Nós mesmos temos