Trabalho Geo
A expressão “choque de civilizações” adquiriu grande repercussão no contexto de incertezas da nova ordem mundial, logo após o fim da Guerra Fria (1947-1989), quando o mundo se deparou com a eclosão de conflitos isolados, motivados por rivalidades étnico-religiosas e culturais, contidos em sua grande maioria por regimes totalitários, como na ex-União Soviética e na antiga Iugoslávia. O postulado (princípio não demonstrado de um argumento ou teoria) de Samuel P. Huntington, na obra indicada acima, constitui um esforço de compreensão do mundo e do novo quadro das relações internacionais emergente da implosão soviética, depois que as tensões políticas da velha ordem bipolar deixaram de subordinar um ou outro bloco ideológico. O autor propôs o paradigma civilizacional como modelo, assumindo que são as várias identidades culturais do mundo que modelam as coesões, as desintegrações e os conflitos numa nova ordem mundial Pós-Guerra Fria, onde, inclusive, Estados se aliam, ou não, em função dos sentimentos de pertencimento civilizacional.
Edward Said, crítico literário e ativista da causa palestina, interpretou a teoria de Huntington como uma versão renovada da tese da Guerra Fria, pois entende que os conflitos do mundo atual e do futuro continuarão a ser essencialmente ideológicos, mais do que econômicos e sociais. Edward lembra que, a argumentação de Huntington falha por tratar a cultura como algo monolítico (único), imutável e homogêneo, ou seja, não considera as inquietações que existem dentro de cada cultura e aponta que a tese do “choque de civilizações” fundamenta-se na