Trabalho escravo no pará
A realidade do trabalho escravo no Pará não é novidade. As políticas públicas de incentivos financeiros e fiscais desenvolvidas a partir dos anos 60 têm promovido a afluência neste Estado de milhares de investidores e/ou aventureiros que não hesitaram duas vezes em se aproveitar de todo tipo de meios para implementar projetos pautados na maximização do lucro no mínimo de tempo, muitas vezes sem nenhuma relação com os projetos oficialmente aprovados e subsidiados. Tanto fazia. Essas terras onde corriam rios de dinheiro público não iam ser, e por muito tempo, alvo de nenhuma ação fiscal do Estado: ali o Estado, financiador da penetração predatória desses grupos, renunciou às suas atribuições de fiscalizador da lei e de ordenador da ocupação territorial.
Desde muitos anos, seguindo ou retomando uma já longa tradição de peonagem típica do Grão Pará, notícias de trabalho escravo circulavam nas bandas de Santana, Conceição do Araguaia ou Marabá. A partir de casos que ficam em todas as memórias como o da fazenda da Volkswagen, circulavam números e relatos dramáticos, impressionantes, porém inverificáveis já que não acontecia nenhuma fiscalização ou investigação. Nos últimos anos, a realidade comprovada e a extensão do trabalho escravo passaram a merecer destaque quase que semanal no noticiário, tanto nacional como internacional. Nos últimos anos, a bem da verdade, o alastramento dessa prática criminosa tem sido devastadora.
O setor agropecuário e madeireiro é quem mais se utiliza da prática do trabalho escravo como sistema de trabalho hoje considerado por muitos até como normal, considerando as condições específicas da região, e o dinamismo próprio da classe empresarial. Mais de 80% dos trabalhadores resgatados da escravidão trabalham no desmatamento preparatório a abertura de fazendas e criação de pastos, na pecuária (limpeza de pasto, construção de cercas, roço de juquira), ou na agricultura (catação de raiz, colheita). Ali assumem as tarefas