Trabalho entrevista
Estado deve orientar investimento privado em áreas importantes, diz brasilianista
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ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO
Para desemperrar o crescimento, a presidente Dilma Rousseff convoca empresários e pede investimentos. Na visão do brasilianista Peter Evans, a iniciativa é insuficiente: a lógica empresarial, voltada para os resultados financeiros, é outra. A chamada burguesia nacional quase não existe --tem agora interesses globalizados, mais distantes dos interesses nacionais.
Evans fez estudos clássicos sobre a relação Estado/empresas no Brasil. Morou no Brasil nos anos 1970, deu aulas na UNB e atuou no Cebrap nos anos 1980.
Seu "A Tríplice Aliança" (1979) dissecou o tripé do modelo brasileiro de então, que reunia capitais estatais, nacionais e estrangeiros. Em 2001, o sociólogo formado em Harvard voltou ao assunto em "Autonomia e Parceria", discutindo o papel do Estado no desenvolvimento, comparando situações no Brasil, na Índia e na Coreia.
Professor emérito da Universidade da Califórnia, em Berkeley, ele advoga que o governo deve ampliar sua aliança em torno de um projeto nacional, incluindo organizações sindicais, associações, intelectuais, e visando o desenvolvimento das capacidades humanas.
Nesta entrevista, concedida por telefone de Nova York, Evans, 68, defende que, apesar das dificuldades, é fundamental para o país ter um projeto nacional. E que o setor público é chave nesse processo.
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Folha - Como o sr. avalia o desenvolvimento brasileiro hoje?
Peter Evans - O importante é evitar o grande domínio de uma versão dominada pela obcessão da acumulação de capital, que privilegia a produção de bens manufaturados. Temos que ter outro ponto de partida: o crescimento das capacidades humanas para produzir para o bem-estar do ser humano.
O sr. a indústria perde importância? Mas não é nesse setor que estão os melhores empregos? Os países desenvolvidos não cresceram com base na indústria?
Sim, os bons