Trabalho de Sociologia
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Lá lá lá lá laiá
Análise:
A denúncia por meio de versos metafóricos é recorrente na música de Chico Buarque, o que pode ser observado em versos como: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”, ou seja, apesar de tudo o que ocorria na ditadura, como as torturas e as mortes a quem se opusesse à ela, o dia da democracia chegaria, o que é enunciado pelo sujeito poético: “Ainda pago para ver o jardim florescer, qual vc não queria”; “Você vai ter que ver o jardim florescer e esbanjar poesia”. Há uma importante associação entre a democracia e a poesia, justamente pelo caráter de liberdade das palavras, característica da escrita poética. No primeiro trecho da letra “Hoje você é quem manda, falou, tá falado não tem