TRAB SOCIO E FILOSOFIA
Segundo Jessé Souza, o processo brasileiro de modernização possui duas fases fundamentais de transformações políticas e sociais. A primeira é caracterizada por um modelo de organização social calcado numa lógica de poder pessoal, representada pela figura do senhor de terras e identificada pelo patriarcalismo e pela escravidão. Na segunda, identificada por maiores graus de implementação do aparato burocrático e de desenvolvimento do mercado, tem-se uma mudança de eixo com a paulatina adoção de uma lógica de poder impessoal, típica da modernidade européia. Para representar a condição desses indivíduos, marcada por uma “cultura política da dádiva”, de total confusão entre público e privado, Teresa Sales fala numa “cidadania concedida”24. Durante a República Velha, a situação desses sujeitos perante a sociedade começou a ganhar tanta relevância que fez com que o estado deixasse de ignorá-los e passasse a tomar medidas em relação a eles. Além do processo de reorganização produtiva no país, a sucessão de eventos políticos marcantes nesse período proporcionou uma reviravolta em relação à questão social, passando esta de “caso de polícia” a objeto de políticas públicas seletivas, voltadas à promoção da cidadania pela via do corporativismo. A questão social 22 Dotado de soberania absoluta tanto na seara pública (como representante do poder local insubordinado ao poder central), como na privada (enquanto chefe de família), tal personagem denota uma concepção políticasocial de marca autoritária, totalitária e oligárquica. SOUZA, Jessé. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema brasileiro. Brasília: Ed. UnB, 2000, p. 268. 24 A “cidadania concedida” “(...) está na gênese da construção de nossa cidadania, está vinculada, contraditoriamente, à não-cidadania do homem livre e pobre, o qual dependia dos favores do senhor territorial, que detinha o