Todas as pessoas solitárias
Uma coluna recente da Folha debruçou-se sobre importante questão feminina: por que algumas mulheres ficam, ou melhor, estão sozinhas?
Pra ser mais precisa, o ponto de discussão inicial foi a melhor desculpa dada por essas mulheres para estarem sem um par. Qual seria mais eficiente, segundo a autora: a ausência populacional de homens (estatisticamente falando) ou a infértil relação entre os solteiros, “disponíveis” no mercado, e as mulheres independentes?
De acordo com a autora, a última (e falsa) hipótese usada como escusa para as pobres solteiras – e é esse o recado implícito, da solteirice como estado inferior da mulher, salvo engano, – deve ser explicada de um modo bem simplório, arrematando o texto, com um “Você está sozinha porque é chata”.
A chatice já foi abordada de maneira exemplar por Aline Valek, na Carta Capital. E que as “não-chatas” desculpem os inoportunos palavrões lá escritos – os mesmos palavrões usados pelos seus maridos durante os jogos de futebol.
Mas vale ponderar os sentidos de que querem, queriam ou podem querer as mulheres, no sentido do que é a solidão, e principalmente, o que é uma relação.
Uma mulher está sozinha. Aqui vale uma contribuição do inglês, aquela lição elementar das primeiras aulas de língua britânica: ser é diferente de estar. A partir daqui já é possível esboçar muitas concepções, e colocar pingos nos “i”s.
Em pleno século XXI, e a não ser que você tenha sido prometido em casamento por alguma sociedade com rígidas regras sobre o quesito e saiba desde a tenra infância com quem vai casar e passar daí à velhice, todos já passaram por períodos de namoro, solteirice, noivado, casamento, divórcio, novo casamento etc. Alguns mudam inclusive de “time”.
Então, cara autora, como funciona agora este “está sozinha porque é chata”? Uma espécie de sistema binário, que quando muda a chave do “namorando” – talvez junto com o status de relacionamento do facebook – a mulher transforma-se em alguém “legal”?