Tocqueville
Alexis de Tocqueville nasceu em 1805, advindo de um antigo tronco da aristocracia normanda1, em plena era napoleônica e com os ecos da revolução francesa ainda no ar. Seguiu a carreira da magistratura e se dedicou a observar diretamente aquilo que ele considerava irreversível: a Democracia.
O momento da história em que Tocqueville viveu marcava a emergência de uma nova ordem. Para conseguir analisar esta grande mudança histórica, ele travou um combate interno com a marca nele imposta pelo seu tempo e sua condição social, pois mesmo tendo o antigo regime acabado, Tocqueville - que teve seu próprio avô morto na guilhotina - sempre sentiu certo esnobismo diante de pessoas de “classes inferiores”. Como ele mesmo diz em uma carta ao seu tradutor inglês, Henry Reeve, em 1837: “Vim ao mundo no final de uma longa revolução, que, tendo destruído o antigo estado, não criara nada permanente. A aristocracia já estava morta quando comecei a viver, e a democracia ainda não existia. Meu instinto, portanto, não tinha como me empurrar cegamente seja para uma seja para outra. Em suma, eu estava de tal modo num equilíbrio entre o passado e o futuro que naturalmente e instintivamente não me sentia atraído quer por um quer pelo outro”.
O seu grande mérito, na verdade, foi partir desta situação de equilíbrio para pensar a transição em seu sentido mais radical: a revolução, em sua própria linguagem. Para ele este seria um processo inexorável e irreversível. Ele a concebe uma lenta translação do ponto de equilíbrio das sociedades, acelerada em momentos cruciais por erupções como na França de 1798. Para entender melhor a Democracia - que Tocqueville considerava o modelo que deveria vir depois da Aristocracia - ele resolveu estudá-la em seu estado mais puro – em um lugar que não houvesse passado pela lenta e dolorosa transição do fim da Aristocracia – os Estados Unidos. Com essa idéia em mente, e um projeto de estudos das instituições penais americanas,