Tipos e gêneros textuais
Veja um exemplo de narração:
D. Paula entrou na sala exatamente quando a sobrinha enxugava os olhos cansados de chorar. Compreende-se o assombro da tia. Entender-se-á também o da sobrinha, em se sabendo que D. Paula vive no alto da Tijuca, donde raras vezes desce; a última foi pelo Natal passado, e estamos em maio de 1882. Desceu ontem, à tarde, e foi para casa da irmã, Rua do Lavradio. Hoje, tão depressa almoçou, vestiu-se e correu a visitar a sobrinha. A primeira escrava que a viu, quis ir avisar a senhora, mas D. Paula ordenou-lhe que não, e foi pé ante pé, muito devagar, para impedir o rumor das saias, abriu a porta da sala de visitas, e entrou.
MACHADO DE ASSIS, DONA PAULA
O texto narrativo é figurativo, pois se constrói com termos concretos (sala, sobrinha, olhos, tia, casa, irmã...). O foco recai sobre uma personagem determinada (D. Paula), que num determinado tempo e espaço, realiza uma série de ações (entrar na sala; enxugar os olhos; descer e ir para casa da irmã; almoçar, vestir-se e correr a visitar a sobrinha...). Tais ações indicam mudanças de situações e transformações de estado. As mudanças estão organizadas em uma relação de anterioridade e causalidade lógica (almoçar é anterior a vestir-se e visitar a sobrinha; a escrava ver D. Paula é anterior ao fato de ela querer avisar a senhora; abrir a porta da sala é anterior a entrar). Por conta disso, há uma predominância de tempos verbais do passado (entrou, enxugava, almoçou, vestiu-se, ordenou...).
2 DESCRIÇÃO
A tardezinha de sábado, um pouco cinzenta, um pouco fria, parece não possuir nada de muito particular para ninguém. Os automóveis deslizam; as pessoas entram e saem dos cinemas; os namorados conversam por aqui e por ali; os bares funcionam ativamente, numa fabulosa produção de sanduíches e cachorros-quentes. Apesar da fresquidão, as mocinhas trazem nos pés sandálias douradas, enquanto agasalham a cabeça em echarpes de muitas voltas. Tudo isso é rotina. Há um certo