Tipologia cultural
Peter Hanenberg1
Com o chamado Tratado de Lisboa, a Europa entra num novo ciclo. São muitas as esperanças que se depositam neste ciclo, mas também são muitos os desafios que nos esperam. O longo debate que precedeu à decisão política testemunhou os múltiplos pontos de vista, receios, preocupações e idiossincrasias que o projecto da Europa provoca. Vale a pena, por isso, recapitular algumas das vozes mais significativas que se fizeram ouvir neste processo singular em que um continente tenta reinventar-se: no sentido de uma
“aventura inacabada” como a definiu Zygmunt Bauman (Bauman 2004); de um “sonho” como sugeriu Jeremy Rifkin (Rifkin 2004); de uma “ideia” como tão bem ilustrou George
Steiner (Steiner 2005); no sentido de “Uma Europa Cristã” como propõe J.H.H. Weiler
(Weiler 2003); de um encontro entre “Nós e a Europa” como explica Eduardo Lourenço
(Lourenço 1994); na sua dimensão global e cosmopolita destacada por Anthony Giddens
(Giddens 2007) e Ulrich Beck (Beck/Grande 2004); ou ainda no sentido de Peter Sloterdijk, evocando um pensamento em que as pessoas descobrem, “que a política praticada em grande é possível para lá do Império e o desprezo imperialista” (Sloterdijk 1994/2008). A revisitação destas propostas e posições permitirá perceber melhor como o Tratado de Lisboa exige um esforço cultural que conta com a colaboração activa de todos os europeus.
Em Julho de 2003 a chamada Convenção Europeia terminou os trabalhos iniciados em Fevereiro de 2002 e apresentou o seu projecto de tratado que pretendia estabelecer uma Constituição para a Europa (http://european-convention.eu.int/). São conhecidas as datas políticas que marcaram o destino desta proposta: Em Maio e Junho de 2005 as populações da França e da Holanda vetaram maioritariamente a constituição, inviabilizando também a sua implementação nos restantes países. Só em Dezembro de 2007 os chefes dos governos dos entretanto 27 estados-membros da União