Thomas Kuhn e as Ciências Sociais
Mil novecentos e noventa e dois marcou os 30 anos da publicação de A estrutura, das revoluções científicas (ERC), de
Thomas S. Kuhn. O objetivo primeiro do livro era o de fornecer um quadro convincente de como se desenvolvem as ciências naturais. Porém, o alcance do texto foi muito maior. Poucos anos depois de publicado, seus principais termos — notadamente paradigma e ciência normal — já eram empregados, quase nunca no sentido pretendido pelo autor, em textos sobre artes, psicologia e ciências sociais.
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A importação de termos, na verdade já mal definidos na própria origem, causou mais confusão que resultados positivos. Kuhn não se atem a uma só acepção para cada um deles e essa multiplicidade de sentidos, somada a outros fatores como a aparente acessibilidade do livro quando comparado a outros textos de filosofia da ciência (especialmente os produzidos na esteira do positivismo lógico) e a uma certa necessidade permanente que as ciências humanas têm de se afirmar como ciências, levou a uma literatura perdida em detalhes técnicos e alheia às principais questões levantadas pelo autor.
O objetivo deste texto é examinar os motivos que levaram historiadores e autores em epistemologia das ciências sociais a importar os termos kuhnianos de forma tão pouco fiel às intenções do autor da
ERC. Antes, será preciso fixar os principais traços do modelo de Kuhn e, igualmente importante, estabelecer o que o modelo não é.
Nesses 30 anos, muito da literatura sobre o autor, feita fora do estrito estudo epistemológico, girou sobre questões tais como adequar
Kuhn a outros domínios que não as ciências naturais ou examinar se o modelo se aplica a fatos históricos bem documentados. Exemplos típicos dessa última preocupação são questões do gênero: "A aceitação do darwinismo foi ou não uma transição de paradigma? "Se sim, então o modelo ganharia corroboração; se não, deveria ser reestruturado, como se tratasse de