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Visivelmente, o cartunista tinha uma posição de embate ao poder instituído. Infelizmente, não é o que vemos na grande mídia, salvo raras exceções. O que se vê é um humor rasteiro, legitimador de discursos e práticas opressoras e que tenta se esconder por trás do riso. Sendo a sociedade racista, o humor será mais um espaço onde esses discursos serão reproduzidos. Não há nada de neutro, ao contrário, há uma posição ideológica muito evidente de se continuar perpetuando as opressões.
Alguns humoristas, quando criticados, dizem estar sendo censurados. Há que se explicar para eles o que é censura. Primeiro, eles dizem e fazem coisas preconceituosas. Quem se sentiu ofendido, reclama. Onde está a censura nisso? Incomodam-se pelo fato de, cada vez mais, muitas pessoas denunciarem e gritarem ao ver suas identidades e subjetividades aviltadas; é como se dissessem “nem se pode mais ser racista, machista em paz”.
Acreditam ter uma espécie de poder divino de falar o que querem sem serem responsabilizados. Atualmente, pululam humoristas com esse viés. Comportam-se como semideuses, como Danilo Gentili, que chamou de macaco um moço que discordou dele. Marcelo Marrom, infelizmente, é um homem negro que faz piadas vergonhosas ridicularizando a si mesmo e pessoas negras. Age como uma espécie de neocapitão do mato, tentando caçar nossa dignidade, nossa autoestima, que há anos lutamos para ter. Capitão do mato do humor para entreter a casa grande. Que a ancestralidade tenha misericórdia dele.
Durante muito tempo, tive receio de passar perto de grupos de adolescentes. Quando criança, fui alvo de piadas e chacotas