Texto o Lenhador
Rolando Boldrin
Um lenhador, derribava as arvris sem precisão e sempre a avozinha dele dizia assim:
- Meu filho, tem dó das arvris que as arvris tem coração!
As vez já de manhã cedo, pegava no seu machado e levava o dia intero escangaiando o arvoredo. Esse bruto, sem fazer causo dos gritos da sua avó que já tinha mais de 90 janero. Um dia botô no chão um bonito ingazeiro carregadinho de fruto. Toda feita, o renegado fez pior, muito pior, desgaiou a laranjeira da pobrezinha da avó, uma velha laranjeira de onde ela tirô as flor pra enfeitar seu vestido quando, virgem, se casô com o velho que tanto amou. E a avó suplicando em vão, dizendo sempre:
- Meu filho, tem dó das arvris que as arvris tem coração!
Do lado do capinzá adonde pastava o gado, tinha um grande e velho ipê que o avô tinha prantado. Quando o avô lavrava a roça, o dia inteiro a capinar nas horas quentes do rio, a sombra daquela arvri era pro velho descansar e nas noites enluarada, ali, num banco de pedra, com a viola conversando, o velho já caducando, rasgava o peito a cantar.
Num é que o tinhoso, o bruto, o mal, o tirano, a fera desnaturada, um dia jogou no chão aquela arvri sagrada que tinha mais de 100 anos!
Porém, quando o tinhoso esgaiava esse grande ipê, eis que um barulho de sangue do tronco ele viu escorrer. De susto, sacudiu fora o machado e deu de perna a correr. E foi correno, correno, correno e cada tronco de arvri que ele torô, ia virano um braço alevantado dum home enterrado a gritar:
- Vai-te marvado, assassino, matador! Foi Deus que te castigô!
E lá longe, quando só uma vez se atreveu a olhar para trás, viu um ipê alevantado feito homem ensanguentado com os braços todo cortado, aí é que corria mais. Nas barrancas do caminho, um ranchinho abandonado por dentro do mato ele viu, queria se esconder e descançar, mas o ranchinho, por vingança inriba dele caiu e o homem toma a correr, sempre gritar e as arvri iam tombando como se fossem arrancadas com toda força da