TEXTO TRADIÇÃO E INVENÇÃO
REFLEXÕES SOBRE 0
PROJETO ARQUITETÕNICO
Tradição e invenção: uma dialética fundamental'
Uma das questões centrais de qualquer discussão sobre o problema do ensino de arquitetura é aquela relativa à transmissibilidade do conhecimento arquitetônico. Ou, por outra, que tipo de conhecimento pode ser transmitido a estudantes de arquitetura. Desde que esse ensino foi institucionalizado, o debate tem oscilado entre duas opções extremas. De um lado estão os chamados tratadistas, que delimitam o fazer arquitetônico, encapsulando-o em manuais que cobrem todos os aspectos formais da disciplina, como foi o caso de J.N.L.Durand, no começo do século XIX, e até mesmo de Rob Krier, em anos recentes. No outro extremo, encontram-se os que afirmam não ser possível ensinar arquitetura, já que projetar seria um dom quase 'divino'- ou se tem talento ou não se tem - atitude muito comum nas escolas brasileiras nas últimas décadas.
Embora nenhuma das duas posições seja aceitável, pelo seu extremismo, ambas enfatizam dois aspectos fundamentais do processo de projeto arquitetônico: a existência de um corpo de conhecimento objetivo e transmissível e a importância do componente subjetivo que determina o modo de utilização do repertório da arquitetura em cada situação específica.
Historicamente, o ensino de arquitetura tem sido vinculado a uma ou outra ideologia arquitetônica, significando que uma determinada filosofia de projeto sempre tem uma contrapartida didática e metodológica. Tal foi o caso no século XIX, na Escola Politécnica e na Academia de Belas
Artes francesas, no início deste século na Bauhaus alemã e suas descendentes americanas e, mais recentemente, em quase todas as escolas de arquitetura do mundo ocidental, devido ao interesse renovado pela história da arquitetura como material de projeto. Assim, qualquer observação a respeito do ensino do projeto deve necessariamente considerar o processo de projeto arquitetônico, em vários aspectos, como referencial básico para