terra papagalli
Salientando que não só os relatos da obra, como o próprio descobrimento do Brasil é colocado como um fato a ser questionado.
Sendo assim a leitura dessa obra nos coloca diante o passado e presente, o jogo temporal que acontece no livro é absorvido pelo leitor graças ao tom de ironia da obra.
A começar pelo enunciado que possui um ou mais significados e no qual esse atrito entre os mesmos resulta na construção da ironia da obra.
A utilização do latim faz parte desse tom, língua que há tempos foi sinal de cultura e com o passar dos anos acabou se tornando apenas um ornamento, representando até uma erudição forçada.
O personagem narrador se gaba de seus falsos dotes intelectuais em meios forjados, utilizando as expressões em latim para enganar os incautos.
A dissimulação irônica ocorre em vários momentos da obra, a narrativa se constrói em um movimento atemporal em alternância com o passado e o subentendido presente.
O Personagem Cosme Fernandes entremeia 10 mandamentos para orientar o interlocutor Conde de Ourique a respeito dos costumes da nova terra, o que remete ao decálogo de Moisés.
1. É preciso saber dar presentes com generosidade e sem parcimônia, porque os gentios que lá vivem encantam-se com qualquer coisa, trocando sua amizade por um guizo e sua alma por umas contas.
2. Quando aparecer alguma dificuldade, mesmo que seja de simples solução, é preciso fazer alarde, espetáculo e pompa, pois nesta terra mais vale o colorido do vidro que a virtude do remédio.
3. As gentes da Terra dos Papagaios são muito crentes e de fácil convencimento. Por isso, têm em alta conta os feiticeiros, os falsos profetas e vai a coisa a tanto que não há patranheiro que lá não enriqueça e prospere. E