Terceira Margem do Rio - Guimarães Rosa
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Em “A terceira margem do rio”, de João Guimarães Rosa, o narrador-personagem assiste seu próprio pai se abster de todo e qualquer convívio social, passando a viver em uma canoa. Nesse sentido, o pai buscou – no isolamento – uma iluminação espiritual que o levasse a conhecer a si mesmo. Assim, devemos compreender a terceira margem do rio com um olhar místico, de maneira a se opor ao excesso de racionalidade encontrado no mundo moderno. Como relatado por Rosa a seu tradutor alemão Curt Meyer-Classon em 1965, seus livros buscam “(...) devassar um pouquinho o mistério cósmico, esta coisa movente, impossível, perturbante, rebelde à qualquer logica”. Há, nesse trecho, uma impactante relação com a decisão do pai em sua busca espiritual, uma vez que o narrador, angustiado com a atitude de seu genitor, é levado a questionar o próprio existir humano, buscando – assim como seu pai – o verdadeiro sentido da vida em toda a sua misticidade: exatamente o que o autor diz pretender em suas obras. Nesse contexto, deve-se ter em mente a contraposição entre a claridade e a escuridão exposta em “O que é ser contemporâneo”, do italiano Giorgio Agamben. No ensaio, a “claridade”é tida como a sociedade moderna em toda a sua racionalidade e lógica. Já o obscuro pode ser compreendido como a busca espiritual, a tentativa intransferível de encontrar a verdade a respeito da existência humana. Entretanto, é de suma importância a compreensão de que, apesar do paradoxo, “luz” e “sombra” caminham juntos. Como afirmado por João Guimarães Rosa: “Toda lógica contém inevitável dose de mistificação (…) precisamos também do obscuro”. Para “ser contemporâneo”, portanto, é preciso ter conhecimento não somente a respeito da claridade do presente, como também da escuridão do passado.
Em “Considerações intempestivas”, de Friedrich Nietzsche, o filósofo debate a respeito do quê é “ser extemporâneo”. A “extemporaniedade” surge, nesse caso, como uma manifestação de pontos de