Teologia Filosofica Apresenta O
Os atributos clássicos estão hoje, na era do «fim da metafísica», desqualificados. Evitando qualquer modalidade de teologia filosófico-científica (ou «metafísica»), hoje bastantes preferem a evocação à qualificação, a poesia à filosofia, o símbolo ao conceito, movendo-se, mais discretamente, em linguagem puramente evocativa e sugestiva, que não representativa. E há mesmo quem procure evitar a nomeação (a palavra «Deus»).
Podemos, por isso, perguntar: será ainda razoável – e, sobretudo, será filosoficamente legítimo – continuar a afirmar uma série de atributos que se presume convirem a Deus? Na consciência da complexidade e dificuldade de tudo quanto diz respeito ao nosso pensar sobre Deus, tendo em conta as múltiplas chamadas de atenção de grandes pensadores dos últimos tempos a esse respeito, e, por outro lado, acolhendo como dignas de atenção as vias clássicas de dizer algo sobre «o que é Deus», ousamos alguma descrição filosófica dele, tendo presente que, como atrás observámos, laboramos com uma verdade no condicional: se é verdade que Deus é o Criador do mundo, então, a partir dos seus reflexos no mesmo mundo podemos afirmar algumas coisas acerca do que Deus é. Foi a essas coisas que a escolástica tradicional chamou atributos de Deus. São perfeições ontológicas que lhe são atribuídas, servindo como elementos para uma, necessariamente imperfeita, descrição da sua essência.
S. Tomás distingue, nas criaturas, entre perfeições simples ou puras e perfeições mistas ou não puras. As primeiras são aquelas que, na sua natureza, não implicam nenhuma imperfeição, embora nas criaturas se encontrem realizadas de modo imperfeito, por serem finitas. Assim, p. ex.: a grandeza, a sabedoria, a bondade, a beleza, a santidade. As segundas são aquelas que, na sua natureza, implicam alguma imperfeição. Assim, p. ex., a corporeidade, a sensitividade, a racionalidade. No seu modo de ver, todas elas existem em Deus virtualmente, isto é, como em sua causa.