Tempos Modernos x Samsara
Várias comparações podem ser feitas partindo das duas fontes de análise. Sob um ponto de vista social relativo a condição do trabalhador, ambos são submetidos a um ritmo de trabalho que se alinha ao interesse monetário altamente lucrativo dos empresários, correlacionando-se a apenas uma pequena “peça” da grande engrenagem que forma o universo industrial, no qual o empregado desprovido de conhecimentos técnicos sobre o que está produzindo, se comporta proximamente à uma máquina. Também a partir da produção em massa gerada pelo processo mercantil, os dois filmes caracterizam alguns efeitos colaterais do modo de produção em questão, como em Chaplin o psicológico abalado pela saturação do trabalho repetitivo e em Samsara a monotonia com que o empregado na “fábrica” de frangos encara a tarefa; ou então o consumismo exacerbado refletido no tipo físico do consumidor que depois ainda busca sanar este reflexo, alimentando ainda mais o sistema pagando por uma solução, configurando a notória formação de um ciclo vicioso em que o capitalismo insere o individuo onde “o consumidor acaba sendo consumido pelo próprio consumo”.
Contudo, nessa comparação, a produção agroindustrial moderna de alimentos acaba se tornando muito similar ao processo de montagem de um produto de uso comum, havendo forte dependência do clima e dos animais no primeiro citado. Mesmo assim, as etapas de beneficiamento e processamento massivo que ambos sofrem até ao destino final no comércio se assemelham com clareza, configurando uma clara “coisificação” dos animais e recursos naturais para fim de se tornarem um firme alicerce nessa cadeia de consumo.