tempo de manga
Tenho que trocar meus óculos! Já nem consigo ler antes de dormir, e bem por isso, acabei indo dormir cedo. Resultado: acordei cedo. O dia estava claro e fresco, depois da chuva sempre o ar está quase palpável; nossos pulmões agradecem o prazer. A chuva fez uma grande vala na rua ao lado de minha casa e por isso os automóveis acabam desviando dela e subindo na minha calçada. Foi um bom investimento e não posso deixar que ela se vá com as chuvas. Peguei o enxadão e fui fazer uma via alternativa para a natureza transitar: cavei uma valeta quase paralela na tentativa de desviar a água. A obra será inaugurada na próxima chuva, espero que resista bravamente, pelo bem da minha calçada e do meu bolso. Em pleno processo de engenharia, cavando e arranjando pedras para tampar a vala natural que a chuva produziu, percebi que era tempo de manga. Eu já havia me dado conta, mas não tinha enxergado ainda que ali, ao meu lado, havia mangas, e, naquele momento, seu perfume enchia minhas narinas. Foi inevitável que a obra durasse o tempo necessário para que eu fosse fazer uma vistoria mais de perto nos frutos que a chuva se encarregara de derrubar da mangueira. O chão estava repleto. Pensei em pegar algumas e levar para casa, mas não suportei o apelo das mangas e ali mesmo tirei a casca de uma delas e me fartei... Que sensação sensacional degustar ali mesmo, fiapo por fiapo, sem a preocupação das facas, das pessoas ao lado, de não sujar a roupa, de não pingar no chão. Nada, nada estava entre mim e o sabor quase infantil de comer uma manga no pé... A primeira foi surpreendentemente boa, a segunda confirmou minha expectativa. Ao final de duas mangas restou apenas o caroço, aliás, dois caroços quase sem fiapos para contar a história. Afinal, onde estavam os fiapos da manga, tão comuns nos caroços? Logo descobriria. Posso afirmar que foi uma experiência completa: o olfato despertado pelo cheiro doce, os olhos empolgados ao avistarem as mangas maduras e ainda frescas