Temas Recobertos por Figuras
Podemos destacar em A Mulher que Escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar algumas isotopias temáticas responsáveis pela configuração de um universo figurativo, entre elas a feiúra, a sexualidade e o desejo.
Feiura
Ao ser delegada voz à mulher que assume a enunciação em forma de debreagem enunciativa, o primeiro enunciado “ a feiura é fundamental, ao menos para o entendimento desta história”( Scliar, 2006, p. 19), evidencia o tema “feiúra” que em seguida é recoberto por figuras que constituem ícones que vão dar ao texto a ilusão referencial: “ É feia, esta que vos fala. Muito feia. Feia contida ou feia furiosa, feia envergonhada ou feia orgulhosa, feia triste ou feia alegre, feia frustrada ou feia satisfeita – feia, sempre feia” (SCLIAR, idem).
Responsável pela concretização da isotopia feiura, temos a reiteração da palavra “feia” que aparece antecedida pelo dêitico “muito”, revelando a intensidade e a permanência através do dêitico “sempre”; constituindo assim, a condição estética ator mulher. Entre o início e o final desse enunciado, o enunciador joga com as antíteses: contida vs furiosa, envergonhada vs assumida, modesta vs orgulhosa, triste vs alegre, frustrada vs satisfeita, que constituem o corpo antitético do rosto. Esse jogo é responsável pela figurativização de um sujeito multifacetado. Para construção do percurso da descoberta do tema “feiura”, o sujeito refere-se à infância quando ainda a feiúra constituísse apenas em uma suspeita, porque sabia-se diferente das outras crianças.
Desde a infância eu suspeitava disso, de que era feia. As outras meninas da aldeia, bonitas em geral, relutavam em brincar comigo: quando eu aparecia, davam um jeito de escapulir, rindo à socapa. Ora, eu não era aleijada, nem estúpida: por que fugiam? Era algo que viam em mim, e de que não falavam. (Scliar, 2006, p 19) A descoberta de sua condição de feia só se confirma aos dezoito anos, tendo como objeto responsável por essa